No isolamento da NASA, o poker virou ferramenta para manter astronautas mentalmente fortes

Enquanto a NASA intensifica os testes que vão preparar os primeiros humanos para uma missão a Marte, o chamado “esporte da mente” ganhou um papel inesperado dentro do centro de pesquisa em Houston, nos Estados Unidos. Em meio ao isolamento extremo, à rotina rígida e à escassez de estímulos, o poker acabou se revelando uma das ferramentas mais valiosas para preservar o equilíbrio psicológico da tripulação.
Essa descoberta surgiu durante o CHAPEA (sigla de Crew Health and Performance Exploration Analog), o mais completo análogo de missão marciana já realizado na Terra. Por 378 dias, entre junho de 2023 e julho de 2024, quatro voluntários viveram confinados na Mars Dune Alpha, uma instalação de 1.700 pés quadrados criada para simular as condições de vida no planeta vermelho, desde recursos limitados até o atraso real nas comunicações com a Terra.
A comandante Kelly Haston contou em uma entrevista ao portal PokerNews que, embora todos soubessem racionalmente que estavam em um hangar em Houston, a privação social era tão intensa quanto seria em Marte. “Não dava para fingir que eu não estava numa caixa em Houston, mas dava para viver o momento de: ‘Eu não falo com meu parceiro por um ano. Eu só convivo com essas três pessoas’. Isso já é extremo o bastante.”
Com acesso limitado a informações externas, rotina milimetricamente controlada e praticamente nenhum espaço para individualidade, a NASA sabia que pequenos objetos pessoais precisavam ter impacto psicológico positivo. Foi aí que o baralho entrou na história. “Não existe nada mais leve que um baralho. A NASA sabia disso e, claro, nos deu cartas”, lembra Haston.
A partir daí, o poker deixou de ser um simples passatempo e se tornou parte essencial da convivência. À medida que as conversas se esgotavam e o fluxo de novidades externas caía quase a zero, o jogo passou a cumprir um novo papel: criar histórias, renovar vínculos e impedir que a rotina se tornasse sufocante. Uma partida de Texas Hold’em começou e acabou durando dez meses inteiros, com direito a apostas improvisadas usando tampas coloridas de reagentes que, segundo a comandante, chegaram a fazer falta nos experimentos.
Os dados coletados no CHAPEA. de nutrição a desempenho cognitivo, vão orientar futuros protocolos para missões reais a Marte. E o lazer, antes tratado como detalhe, ganhou protagonismo. A próxima missão do CHAPEA já está em andamento e deve seguir até 2026. E, segundo Haston, se há algo praticamente garantido no habitat marciano simulado, é a presença de um baralho: “Cada missão vai ter suas particularidades. Mas que haverá um novo baralho, eu não tenho dúvida.”
Foto principal: SNEHIT PHOTO/Shutterstock.














